Rompendo com as narrativas tradicionais, a historiografia contemporânea sobre D. Henrique reposiciona‐o num contexto cronológico de longa duração, enquadrando‐o no complexo feixe de alterações políticas, institucionais, culturais e religiosas que Portugal viveu no século XVI.
Nas suas multivariadas funções, D. Henrique, personagem que na sua juventude recebeu educação aberta às correntes de pendor humanista, de formação eclesiástica, foi também um destacado mecenas, evidenciando‐se o investimento no ensino, nomeadamente através da criação de colégios, entre os quais, o Colégio do Espírito Santo (1553), de onde nasceria a Universidade de Évora, em 1559.
Regente e rei em contextos políticos, económicos e sociais particularmente difíceis, é possível destacar na sua governação a área da acção política da esfera eclesiástica, onde, de resto, D. Henrique desempenhou os mais elevados cargos (arcebispo, legado a latere papal, inquisidor‐mor), deixando neles marcas indeléveis pelas reformas operadas e implementação das orientações doutrinais do Concílio de Trento, sobressaindo, enquanto inquisidor‐mor, a organização e consolidação do tribunal do Santo Ofício e das suas estruturas institucionais e económicas. Não foi no uso dos seus poderes jurisdicionais enquanto prelado que reorganizou a administração dos recursos formais de caridade e assistência. Foram antes opções políticas, de governante e soberano, que não só preservaram o rumo traçado pelos monarcas que o antecederam, como ainda reforçavam o domínio da Coroa no sector. Foi também nessa mesma linha de fortalecimento da autoridade régia que fez intervenções nas estruturas político‐administrativas do Reino, bem como nas instituições políticas formais, em variadas manifestações do exercício da autoridade por parte do poder central, também exercidas, formal e informalmente, sobre as populações.
O congresso D. Henrique e as múltiplas dimensões do poder no século XVI, realizado no ano em que se celebra o 5o centenário do seu nascimento (31 de Janeiro de 1512), terá como conferencistas convidados os Prof. Doutores Amélia Polónia e José Pedro Paiva e estará dividido em três sessões: 1. O governo do Reino; 2. Igreja, religião e sociedade; 3. Ensino, cultura e mecenato. A partir da figura de D. Henrique são propostos vários temas e tópicos, que entroncam no próprio devir do reino durante toda a centúria do Quinhentos, a sugerir análises comparativas que se espera transcendam o cardeal‐rei.
1. O governo do Reino.O principal objectivo desta sessão é o de aprofundar o conhecimento sobre o papel e a actividade política de D. Henrique enquanto regente (1562 e 1568) e rei (1578‐1580). A política cortesã, as lutas de facções e o equilíbrio de poderes na corte, as teorias e as práticas políticas, as principais personagens e instituições do governo, a organização da assistência, poderão ser alguns dos assuntos a desenvolver.
2. Igreja, religião e sociedadeA sessão organiza‐se a partir da acção de D. Henrique enquanto eclesiástico e da sua actuação como prelado e reformador monástico, protector da Companhia de Jesus e arquitecto da elite eclesiástica da segunda metade do XVI. Num âmbito mais alargado poderão ser analisadas questões como a aplicação da reforma tridentina e suas consequências sociais bem como a consolidação do Santo Ofício.
3. Ensino, cultura e mecenatoPretende‐se aqui sublinhar o papel e a importância de D. Henrique na cultura portuguesa de Quinhentos no contexto mais geral do patronato régio como uma componente do exercício do poder. Um especial enfoque poderá ser colocado nas questões que rodearam a fundação da Universidade de Évora mas o espaço abre‐se também à criação de colégios, entre outras iniciativas ligadas ao ensino. A problemática da publicação dos índices de livros proibidos e do seu
+ informações: http://www.henrique500.uevora.pt/