O Projeto DIZERES
Recolha, documentação e preservação de vocabulário usado pelas comunidades de Sines

O projeto “Dizeres”, promovido pelo Arquivo e Biblioteca Municipal de Sines, é cofinanciado pelo programa Tradições da EDP e conta com o apoio científico do CIDEHUS-Universidade de Évora.

As comunidades locais de Sines sofreram várias alterações desde o século XIX motivadas pelos ciclos industriais e económicos, desde o ciclo da cortiça, ao do turismo, e, mais recentemente, do complexo industrial. A época contemporânea tem sido tempo de cruzamento de populações, culturas e tradições num pequeno concelho de apenas duas freguesias. Situado numa área geográfica delimitada e afastada dos grandes centros urbanos portugueses, que cruza o litoral com o interior, entre a Grande Lisboa e o Algarve, tendo como vizinhos os grandes concelhos alentejanos. Às comunidades autóctones e às oriundas do Alentejo, Algarve e norte do país durante os séculos XIX e XX, acrescem populações que, atraídas pelo Complexo Industrial, sobretudo a partir da década de 70 do século XX, migram para Sines, vindo não só do território português mas também de países africanos de língua oficial portuguesa.

Num contexto de desenvolvimento social e económico que reúne modernidade e tradição, verifica-se que os "modos de dizer" se prendem com atividades tradicionais, no que respeita às comunidades fixadas antes dos anos 70, cujas profissões principais − a pesca ou a antiga transformação da cortiça − estão em regressão, e com elas, também estão a desaparecer os falantes detentores dessa memória linguística e cultural. Urge, por isso, documentar e divulgar estes modos de falar.

O projeto decorre até finais de 2019 e tem como objetivo a recolha, documentação, estudo, salvaguarda e divulgação do léxico específico das comunidades de Sines, um património imaterial que faz parte da história e da identidade do concelho.

A equipa do Município de Sines é formada por Sandra Patrício e António Campos do Arquivo Municipal de Sines e por Diogo Vilhena, especialista em audiovisual e cineasta. Filomena Gonçalves e Sónia Bombico, investigadoras do CIDEHUS e membros da equipa da Cátedra UNESCO em Património Imaterial da Universidade de Évora, colaboram no projeto dando consultadoria nas áreas da linguística e do património cultural.

A natureza do trabalho requer uma metodologia que cruza contributos e práticas de disciplinas como a História, a Linguística (Dialetologia e História da Língua) e a Etnografia. A metodologia inclui quer a entrevista aos informantes, quer a consulta de fontes escritas (documentos de arquivo, lexicografia portuguesa), e, ainda, as recolhas orais realizadas pelos serviços culturais da Câmara Municipal de Sines desde a década de 80 do século XX.

Assume-se que, em rigor, não existirá um léxico específico ou exclusivo de Sines, mas sim palavras e expressões que, em função das características das comunidades de Sines, adquiriram aceções próprias, conhecidas e usadas em determinados contextos (atividades lúdicas, atividades socioprofissionais…). Assim, expressões como Chui! (usada no contexto dos leilões de peixe) ou barrocas (nome dado às escarpas entre a atual cidade e a praia), traduzem vivências locais, associadas a práticas sociais ou a aspetos geográficos.

Os resultados do projeto incluem um glossário, que será disponibilizado online em acesso aberto, uma exposição, uma oficina intergeracional e uma brochura para oferecer às escolas.

  

Recolha e divulgação de expressões das comunidades de Sines no Espaço Sénior Bairro 1º Maio em Fevereiro de 2019

 

Saiba mais sobre o projeto...

 

 

Published in 20.03.2019